Ana Mello
O livro "Mãe, eu tô sangrando" é o segundo livro solo da talentosa Stela Rates. Reúne contos que mergulham em temas universais como transformação, amadurecimento e responsabilidade. Nessa obra, a autora retrata mulheres em diferentes fases de suas vidas, oferecendo-nos protagonistas cativantes e vivências únicas, contadas com perspicácia e sensibilidade.
Ao explorar a metáfora do sangramento, Stela nos convida a refletir sobre as várias dimensões dessa transformação. É um sangrar que simboliza a transição de meninas para mulheres, com todas as expectativas, medos e responsabilidades que isso acarreta. No entanto, também representa o ato de parir ou mesmo abortar, explorando a complexidade da maternidade e da escolha. Outras vezes é um fio de sangue que cai pelo rosto ferido - um tapa.
Por meio de uma escrita envolvente, a autora nos conduz por um universo de personagens tão autênticos, que certamente ecoará nas experiências de todos os leitores. Com sensibilidade e maestria, o livro revela as nuances da condição feminina, explorando narrativas que são simultaneamente íntimas e universais.
O conto "O azul da geladeira" foi finalista do Concurso Nacional de Contos Josué Guimarães, em 2021, o que nos dá pistas de seu impacto. Trata-se da história de uma escolha dolorida e desamparada, ambientada na década de 1980, mas que bem pode estar acontecendo agora.
O conto "Marina" mergulha nos sentimentos complexos e nas experiências marcantes de uma jovem protagonista. Ao acompanhar a jornada de Marina, somos levados a refletir sobre questões cruciais da adolescência e o despertar para a feminilidade. Marina se debate entre a descoberta de seu corpo, as mudanças físicas e as expectativas sociais que recaem sobre ela. São desafios enfrentados por jovens mulheres ao lidar com a menstruação, a dor, a vergonha e a necessidade de manter segredos. A tentativa de esconder os sinais da sua feminilidade e a descoberta de si mesma. Um tema que remete ao título da obra e uma amostra de tudo que o leitor certamente vai encontrar no restante do livro.
São histórias que nos confrontam com a complexidade das expectativas sociais em relação ao corpo feminino, ao mesmo tempo em que ressaltam a importância de acolher, compreender e respeitar as vivências individuais de cada mulher; nos instigam a refletir sobre a necessidade de quebrar tabus, romper com estereótipos e promover uma maior compreensão e aceitação em relação aos processos naturais e transformações pelas quais todas as mulheres passam; nos convidam a repensar as noções de feminilidade, identidade e liberdade, a pensar sobre as experiências que moldam a vida das mulheres.